Indo Além da Norma: O Que é Desenho Universal e Por Que Ele Beneficia a Todos
Princípios do Desenho Universal
6/25/20253 min read


Quando ouvimos a palavra "acessibilidade", o que vem à mente? Para muitos, a imagem é a de uma rampa ao lado de uma escada, um banheiro com barras de apoio ou uma vaga de estacionamento específica. Essas são, sem dúvida, conquistas fundamentais e exigências legais indispensáveis. A ABNT NBR 9050 é o nosso guia técnico para garantir que esses espaços existam e funcionem. Mas e se pudéssemos pensar de uma forma que tornasse a "adaptação" uma exceção, e não a regra?
É aqui que deixamos de falar apenas em cumprir a norma para abraçar uma filosofia: o Desenho Universal.
A própria ABNT NBR 9050 nos dá a definição: é a "concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específico". A frase-chave aqui é
"sem necessidade de adaptação". Não se trata de criar uma solução para pessoas com deficiência e outra para as demais. Trata-se de criar uma única solução, elegante e funcional, que sirva a todos desde o início.
Enquanto a acessibilidade muitas vezes corrige uma barreira existente, o Desenho Universal projeta o ambiente para que a barreira nunca chegue a existir.
Os 7 Princípios que Mudam Tudo
A NBR 9050 menciona em nota os pressupostos do Desenho Universal, que são conhecidos como seus 7 princípios. Eles são um roteiro para criar projetos genuinamente inclusivos. Vamos entendê-los com exemplos práticos:
Uso Equiparável: O design é útil e vendável para pessoas com habilidades diversas. Pense em uma entrada principal de um prédio que é uma rampa suave e bem projetada, usada por todos. Não há uma "entrada dos cadeirantes" nos fundos. A experiência é a mesma para todos, com a mesma dignidade.
Uso Flexível: O projeto atende a uma ampla gama de preferências e habilidades individuais. Um exemplo clássico são as tesouras para destros e canhotos. Em um ambiente, pode ser uma bancada de trabalho em uma cozinha com partes em diferentes alturas, servindo a um adulto alto, um cadeirante ou uma criança.
Uso Simples e Intuitivo: O uso do design é fácil de entender, independentemente da experiência, conhecimento, idioma ou nível de concentração do usuário. Símbolos universais para sanitários ou setas claras indicando um caminho são exemplos. Um interruptor de luz não deveria precisar de um manual de instruções.
Informação de Fácil Percepção: O design comunica a informação necessária de forma eficaz, independentemente das condições do ambiente ou das capacidades sensoriais do usuário. Um alarme de incêndio que, além do som, emite luzes estroboscópicas atende a quem não ouve. Um semáforo de pedestres com sinal sonoro e visual atende a quem não vê e a quem não ouve.
Tolerância ao Erro: O projeto minimiza os riscos e as consequências adversas de ações acidentais ou não intencionais. Em tecnologia, o comando "desfazer" (Ctrl+Z) é um exemplo perfeito. Fisicamente, um piso antiderrapante em uma área molhada previne acidentes para todos, não apenas para quem tem dificuldade de locomoção.
Baixo Esforço Físico: O design pode ser usado de forma eficiente e confortável, com um mínimo de fadiga. As maçanetas do tipo alavanca, que podem ser abertas com o cotovelo quando estamos com as mãos ocupadas, são infinitamente superiores aos modelos de bola, que exigem força e torção do pulso.
Dimensionamento de Espaços para Acesso e Uso: Tamanho e espaço apropriados para aproximação, alcance, manipulação e uso, independentemente do tamanho do corpo, postura ou mobilidade do usuário. Uma catraca de metrô mais larga não serve apenas para cadeiras de rodas, mas também para pessoas com malas, carrinhos de bebê ou simplesmente com uma compleição física maior.
Uma Visão de Futuro (e de Bons Negócios)
Adotar o Desenho Universal não é apenas uma questão de responsabilidade social; é uma decisão estratégica inteligente. Ambientes projetados universalmente são mais seguros, confortáveis e acolhedores para todos. Uma mãe com um carrinho de bebê, um idoso com mobilidade reduzida, uma criança, um entregador com uma carga pesada ou alguém com uma perna quebrada temporariamente – todos se beneficiam das mesmas soluções que garantem a autonomia de uma pessoa com deficiência.
Pensar dessa forma desde a prancheta é mais econômico do que realizar reformas e adaptações posteriores. Um projeto que já nasce inclusivo valoriza o imóvel, amplia a base de clientes de um negócio e fortalece a imagem da marca.
A ABNT NBR 9050 e a Lei Brasileira de Inclusão nos dão o piso, a obrigação legal que garante direitos básicos. O Desenho Universal nos oferece o horizonte: a oportunidade de inovar, de criar espaços mais humanos e de construir um mundo onde a inclusão não precise ser um adjetivo, pois já estará na essência de tudo o que projetamos.